quarta-feira, 23 de abril de 2008

FLAGRANTE

Recém-chegado do interior, o Zeca ainda tinha aquela ausência de malícia, aquela candura, além do sotaquezinho carregado, cheio de erres. Falava sem a mínima pressa, o que bem caracteriza o nosso caipira. 

Demorava um tempão para falar um ai. 

À falta de coisa melhor, enquanto o mecânico consertava seu caminhãozinho, o Zeca arranjou um bico: motorista do táxi da tia.

 Uma tia velha e bem de vida, mas que mantinha o táxi como rendinha extra, e o motorista como seu chofer particular. Ela saía pouco e não dirigia. 

Ia indo tudo bem, até o dia em que o Zeca pegou aqueles três caras, já meio fora de hora, numa corrida que "ia valer a pena". Eles iam até uma rua lá para os lados da zona leste, pegar um dinheiro com o ex-patrão, e voltariam até aquele mesmo ponto, na estação do metrô. Um corridão.

Chegando lá, o Zé estacionou o carro defronte à casa indicada, um muro bem alto com um baita portão de ferro. Dois dos passageiros desceram e o terceiro ficou ali, andando para lá e para cá na calçada, junto com o Zeca,  que desligou o carro e o acompanhou, por precaução. Vai que o cara some... 

Demorou, demorou, e nada dos dois aparecerem. 

Ele já estava começando a ficar preocupado, quando, assim do nada, surgiu a viatura com a sirene ligada: 

 - Mão prá cabeça, os dois! Encosta aí no muro! 

Aterrorizado, o coitado enrolou, titubeou, gaguejou e não conseguiu se explicar. Pois como é que ele haveria de adivinhar que os dois passageiros iam entrar na casa para um ajuste de contas, obrigando o caseiro a telefonar para o patrão? E que o patrão - é claro - ia chamar a polícia? 

Até explicar, o Zeca foi em cana, em flagrante de roubo. Logo ele! 

 foto: "Prudente" - Rubian Calixto