domingo, 22 de abril de 2012

RECOMEÇAR




"Não há bem que sempre dure nem mal que nunca apareça"...

Quando a gente está certa de que TUDO vai da melhor maneira possível, o imponderável acontece. 

Vem a tragédia, vem a catástrofe, vem o naufrágio, vem a separação, vem a ruptura, vem a quebra da bolsa, vem o golpe de estado, vem o confisco da poupança, vem o bicho-papão, sei lá. Mas vem. E lá ficamos nós, com aquela cara atônita, contemplando impotentes o rol dos danos materiais e/ou físicos e/ou espirituais. 

A carne é fraca. 

Tem gente que se desespera de vez: se mata, se pincha, desiste, larga mão de tudo. Mas tem gente que encontra forças para sentar na beira da calçada, respirar fundo, apegar-se àquela "alguma coisa" lá no no âmago e tentar ver o lado positivo da coisa. . Zen demais pro teu gosto? Talvez...

Mas vamos admitir que MUITA situação que estava rolando por aí talvez (ou certamente) não era lá TÃÃÃO perfeita assim? 

Pense naquele empregão que você tinha, onde você representava talvez bem menos do que a mobília, e onde o  comando era exercido por qualquer anta semi-analfabeta porém bem relacionada, ou por qualquer peguete da vez, do vestidinho curto e que resolvesse os problemas do mundo na  horizontal, enquanto você ralava, chegava na hora e saía mais tarde para dar conta do recado... 

Aquele casamentão que você mantinha há séculos, tão requentado, tão remendado, mantido a duras penas só para provar sabe-se lá o quê sabe-se lá a quem: pelo prestígio, pelo status, pela vergonha de admitir que se fez uma escolha porca, pelo simples medo da solidão (como se o que você tem agora dentro de casa pudesse ser chamado de companhia...) ou em benefício dos filhinhos, aqueles lindinhos com piercings e tatuagens até na alma, que não dão um tostão furado por você... Ah vá.

Pense bem no que está ocorrendo hoje em dia, quando não vemos mais os nossos amigos de infância, nem da adolescência, quando não conhecemos mais as pessoas que moram no mesmo andar do nosso prédio, a quem mal e mal cumprimentamos no elevador ao subir ou descer dos nossos quadradinhos. 

Ficamos girando num eterno shopping center, cercados de vidros límpidos  por todos os lados, como peixes num aquário, olhando e sendo olhados, filmando e sendo filmados, seguros, limpos, tranquilos como peixinhos num cardume. Sem contato visual com as outras pessoas, sem falar com estranhos, sem interagir com ninguém. Comendo a ração da moda, vestindo a roupinha da moda, sentindo as emoções da moda.

E quando a internet representa a desesperada tentativa de estabelecer vínculos, com gente que você nunca viu e talvez nunca veja. Gente sem cheiro, sem sabor, sem endereço, ocupando o status de amigo, aquela posição antes reservada para quem ouvia as nossas confissões mais íntimas e escabrosas sem nos julgar, partilhava das nossas muitas dores e das nossas muitas alegrias, dividia a merenda com a gente... Já era!

Eu me pergunto: será tão difícil jogar tudo pro alto e recomeçar do zero?


FOTO: FEOZZY

terça-feira, 3 de abril de 2012

CARA DE PAU, EU?


  • Vegetarianismo + Tai Chi Chuan + Hidroginástica + Caminhadas = Sangue Frio. Também conhecido como "sangue de barata", ou covardia no duro. Esta sou eu, uma das pessoas mais mornas que a terra há de vomitar. 
  • Eu conto tudo.

    Dia desses, passando defronte a uma lojinha de artigos para iluminação ali nas proximidades do Largo de Pinheiros, lembrei que precisava de uma lâmpada para o meu abajur da sala. Lampadinha comum, daquelas amarelas, que a branca me dá má impressão, a sala fica parecendo necrotério.

    Pois bem, o preço da lâmpada era R$ 2,00. Contei minhas moedinhas, não dava. Então coloquei uma cédula de R$ 20,00 sobre o balcão. Para quê?!

    O homem (gerente, dono, sei lá) virou uma fera! Colocou a mãozona quase que relando na minha cara e, fazendo movimentos circulares, dizia:

    - Essa é a freguesa cara de pau! Me traz óleo de peroba aí, gente, mode eu alimpar a cara da freguesa cara de pau!

    Gente...

    Eu fiquei muda, tesa, passada. Que ultraje. Me correu um trem ruim dentro das veias, pensei em mil coisas. Respondo? Não respondo? Reajo? Não reajo?

    Não reagi. Catei a notinha de vinte do balcão e saí com o rabinho no meio das pernas, fui afogar meu stress na piscina aquecida do SESC.

    Dias e dias depois, o nó na goela continua aqui. Evitei um confronto, evitei um escândalo, evitei um processo talvez, fui Zen, segui os princípios do Tai Chi... mas confesso que tive muita vontade de torcer o pescoço daquela anta. 
  • O que você faria?