A cidade amanhecia em festa quando o circo chegava.
Os trapezistas, as dançarinas, os palhaços, os músicos e uma jaula com um leão velho e sonolento faziam seu desfile colorido pelas ruas, enquanto o diretor ia adiante, com um alto-falante à boca, convidando o povo boquiaberto para a função:
- Senhoooooras eeee senhoreeeees!
As fantasias multicoloridas se destacavam na paisagem empoeirada do interior, despertando as pessoas do seu torpor de domingo eterno com a alegre anarquia de palhaços e bumbos.
As fantasias multicoloridas se destacavam na paisagem empoeirada do interior, despertando as pessoas do seu torpor de domingo eterno com a alegre anarquia de palhaços e bumbos.
O circo chegou!
Formava-se então uma longa fila, que dobrava a esquina, subindo da rua de baixo até a rua da casa paroquial, para comprar ingresso . O povo era capaz de deixar de comer, para ir ver o espetáculo. Nós, crianças, entrávamos num estado de excitação suprema, pedindo dinheiro para os pais, quebrando porquinhos de barro, contando moedas.
O circo chegou!
Na hora do espetáculo, com um saco de pipoca na mão, sentávamos nos bancos mais altos, lá perto da lona antiga e salpicada de furos. De olhos arregalados, assistíamos as fantásticas peripécias dos trapezistas, que voavam no ar com aquela destreza inconcebível. O coração vinha na boca, a cada surpresa:
- Oooooooooh!
Muitos de nós, senão todos, um dia sonhamos largar para trás aquele nosso mundinho desenxabido, fugir de casa e entrar para o circo. A nossa vida haveria de ser tão venturosa, percorreríamos o mundo todo, anunciando em cada nova cidade a chegada da alegria e do sonho:
- Senhoooooras eeeee senhoreeeeees!
A verdade porém é que muitos de nós - senão todos - ficamos somente no sonho. Sem nunca sequer tentar realizar a façanha da nossa infância, crescemos para nossas vidas de adultos conformados na monotonia das nossas decisões tão sérias, onde vivemos tristonhos para sempre.
- Oooooooooh!
Muitos de nós, senão todos, um dia sonhamos largar para trás aquele nosso mundinho desenxabido, fugir de casa e entrar para o circo. A nossa vida haveria de ser tão venturosa, percorreríamos o mundo todo, anunciando em cada nova cidade a chegada da alegria e do sonho:
- Senhoooooras eeeee senhoreeeeees!
A verdade porém é que muitos de nós - senão todos - ficamos somente no sonho. Sem nunca sequer tentar realizar a façanha da nossa infância, crescemos para nossas vidas de adultos conformados na monotonia das nossas decisões tão sérias, onde vivemos tristonhos para sempre.
foto: Os gêmeos
4 comentários:
Quem não queria ser um valente domador de leão ou um trapezista ou uma linda bailarina?
Eram tão bonitos!
Agora sabemos que aquela vida era tão dura.
Sonhar é bom só entristece quando a vida é muito madrasta (e ela tem mania tem ser)
Beijos
Cara Dalva,
bom que vc trouxe do fundo das nossas memórias esses momentos em que procurávamos nos encontrar... e sonhávamos!
Quantos dos nossos sonhos se realizaram? Sei não...
abs
Dalvíssima, apesar do Cirque de Soleil, a imagem de circo que vem às nossas mentes, sempre é essa que você descreveu gostosamente.
Você falou sobre a vontade da gente ir com o circo. A Tânia não deixou essa vontade passar, ela foi e a 'resgataram' na cidade vizinha. Essa história vira e mexe vem à tona com a família dela.
Bjs
Dalva, amiga, bom dia.Que coincidência eu a acabar de colocar
o post sobre Chopin e a amiga a
visitar o blogue. Ainda estava a
fazer uma pequena correção.Ainda
bem que lhe agradou. Um beijinho
para si e uma óptima semana.
Irene
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