sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O CIRCO















De vez em quando chegava na cidade um cirquinho fuleiro, no qual os artistas eram sempre os mesmos: dois trapezistas, um mágico, uma família de equilibristas e um palhaço meio sem graça. Mas a gente se encantava com qualquer coisa diferente que aparecesse e o povo todo ficava boquiaberto, assistindo seu desfile pela rua principal:


- Senhoras e senhores!

Na noite da estréia, lá estávamos nós, na fila indiana da bilheteria, uma hora antes. Vai que não se encontrassem lugares!
Com um saquinho de pipoca na mão, sentávamos com os olhos arregalados nas arquibancadas, debaixo da lona velha e coalhada de furos. O show começava. No picadeiro, surgia o palhaço travestido de apresentador, com um suspeito sotaque italiano:

- Signora i signori!

E os artistas se revezavam nos diversos números, diante da platéia deslumbrada. Eu nem piscava.
De repente, as luzes mudavam para um funéreo tom de azul, e anunciava-se a segunda parte da função: o drama! Sem dúvida nenhuma, a minha parte favorita do espetáculo.
Apresentava-se um teatrinho singelo, de personagens estereotipados, versando sempre sobre um drama amoroso, uma tragédia familiar ou alguma passagem bíblica. Os atores eram novamente o palhaço sem graça, vestido de Cristo, de Diabo ou de Sansão, conforme a necessidade. Eram tramas simples, nas quais o Bem sempre vencia o Mal e a virtude era sempre recompensada com a felicidade duradoura. A gente se derretia.

Hoje em dia, para me fazer rir ou chorar, é preciso tão mais!

Foto: "Circo" - Joan Miró

Um comentário:

Anônimo disse...

Sério, Dal? Sua alma endureceu?
Gozado eu ler esta sua blogada... Dias atrás, acho que mais de um mês atrás, eu pude ver o programa Mais Você da Ana Maria Braga na Globo. Nesse programa ela levou um garoto circense que, se não me engano, escreveu pro programa pedindo uma oportunidade de conhecer o Cirque du Soleil. Atenderam o pedido do rapazinho, não antes de ele mostrar suas peripécias no próprio circo da família que estava armado lá no fionfó do mundo. O circo, também todo coalhado de furos e com as cores das lonas tão esmaecidas, havia se tornado uma enorme cabana acizentada, mas um verdadeiro sucesso de público; para os que que puderam pagar a quantia de 2 reais por ingresso. Muita gente entrou, mas muita ficou de fora também à espreita de que alguém se condoesse e liberasse a entrada para aquele mundo de sonho e fantasia.
E o rapazinho, tímido até os ossos, mas com uma coragem invejável, mostrou sua arte pra tv. A mãe ficou para cuidar da administração do circo, já que o show tem que continuar, e pai e filho vieram de avião pra Sampa rumo ao Cirque de Soleil, tudo patrocinado pela platinada rede de tv. Já em Sampa, horas antes do espetáculo Alegria começar, eles conheceram os bastidores do Cirque e em dado momento permitiram que o rapazinho mostra-se suas habilidades nos aparelhos de ensaios dos artistas que ficam nas coxias. Sob a supervisão de um trapezista que falava português e que estava fazendo a vez de cicerone para a mídia, com seu corpo escultural e aparência nórdica, o rapazinho sem músculo algum, tímido e feínho realizou uma série no trapézio que embasbacou o anfitrião. Não só a ele, mas acho que a todos os telespectadores. O rapazinho foi um show à parte, e o supervisor disse que precisaria tomar umas aulas com ele. Fiquei muito impressionado e logo me veio à cabeça: "Puts, se o rapazinho fosse bonito de cara e corpo eu acho que ele seria contratado naquele momento.". Não é que a Ana Maria, com as suas palavras, disse a mesma coisa! Mas, não houve convite, óbviamente, e lá foram pai e filho apreciar o show e depois voltar pro fionfó de onde partiram.
Como você diz no final da sua blogada que pra te fazer rir ou chorar atualmente é preciso tão mais, eu pensei: "Será que nem um Cirque du Soleil a faria se emocionar?". Topa ficarmos com cara de margarina lá na entrada do Cirque du Soleil? Quem sabe liberam a nossa entrada e a gente economiza 500 reais por 2 ingressos! :oD

Bjs,

João Eduardo