segunda-feira, 15 de junho de 2009

O CHURRASCO



- Nem precisava, amiga! Mas...


E ela guardou o imenso tupperware de maionese na geladeira, prá não estragar.
A geladeirona azul-clara antiga já estava bem cheia: patês, saladas, doces, salgados, refrigerantes. A carne do churrasco, que já estava no tempero de véspera, assava, e o seu aroma subia pelo ar. Os convidados começaram a chegar.

- Benhê, me atende lá a porta, vai! ela pediu ao marido, enquanto olhava algo no forno.

E foram chegando. A viela foi enchendo de carros: fora a família, veio o pessoal da Lapa, veio gente da Casa Verde, veio a turminha do serviço. Essa, nunca faltava.

- Opa! é nóis...

Música de fundo, um pagodinho suave. A moçadinha mais nova odeia, então foram se juntando em volta do computador, com seus headfones  e seu rock-and-roll

As rodinhas foram se formando, cada uma com seu assunto, cada uma com seu epicentro. Falavam de política, economia, de futebol, de mulheres, de moda, de literatura. Faziam fofoca sobre a gente do serviço, maldosamente:

- A Inês? Aquela lá já era! Também... quem mandou mexer com homem casado? O pior é que...

E dá-lhe papo, e dá-lhe comida. Veio a salada, veio a maionese, vieram os patês, veio a farofa, vieram as batatinhas. E veio, por fim, o churras!


- Eita, que o cheirinho dessa carne já 'tava me matando!


Lá pelas tantas, o Juvenal decidiu que ia na padaria, buscar cigarro e não sei mais o quê. Queria a chave do carro. A Bete, de rabo-de-olho, viu que ele já estava meio tonto.

- Vai a pé, Juvenal. A padaria é virando a esquina! E escondeu a chave do fusca no seio. Era capaz...

Contrafeito, o Juvenal saiu andando, com o passo realmente meio bamboleante. "Vai com ele, Tonho." mandou a dona da casa - e os dois foram, o Tonho e o Juvenal.

- Bela parelha! alguém observou, lá do fundão. Era o Jura, irmão do Juvenal, que ficou sozinho cuidando do churrasco. "Bela parelha, o Tonho e o Juvenal! Quer apostar como que agora me voltam os dois mais bêbados ?"

Não deu outra!

Foto: Blue Yonder