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A chuva era um hiato na vida da gente. A vida normal era o antes e o depois dela: no durante, era o tédio.
Antes da chuva, tinha aquela correria para recolher a roupa que o vento balançava enlouquecida no varal e fechar as janelas que batiam.
Guardar o feijão que secava espalhado no terreiro antes que molhasse.
Chamar as crianças para dentro, cobrir o espelho com pano e tirar o fio do rádio da tomada, por causa dos raios.
Os trovões cresciam ao longe, medonhos, e iam chegando cada vez mais e mais perto. Relâmpagos cortavam o céu cinzento, mostrando o avesso da copa das árvores.
Medo.
Chamar as crianças para dentro, cobrir o espelho com pano e tirar o fio do rádio da tomada, por causa dos raios.
Os trovões cresciam ao longe, medonhos, e iam chegando cada vez mais e mais perto. Relâmpagos cortavam o céu cinzento, mostrando o avesso da copa das árvores.
Medo.
Caía por fim a chuva braba, pingos grossos batendo nas folhas dos pés de mamão. Rosários surgiam numa ladainha medrosa que ia subindo e descendo de tom conforme o ribombar da trovoada. Nos cantos, queimava-se palha benta e creio que ninguém permanecia inteiramente ateu durante uma tempestade.
As crianças ficavam encolhidinhas dentro de casa, empoleiradas em roda do fogão de lenha, observando as goteiras goteirando nas latas, panelas e bacias espalhadas pela casa.
Pingo, pingo, pingo...
Lá fora, a ventania em redemoinhos uivava e levantava as telhas velhas do galinheiro, espantando as galinhas do choco e arrastando a palha do paiol de embolada com algum balaio vazio.
A criação, sofrendo incomodada, campeava por uma beira de telhado e ficava ali entafuiada, excomungando a tormenta com olhinhos desconfiados.
Quando os passarinhos enfim voltavam a cantar, vinha a surpresa gostosa do depois-da-chuva: o arco-íris no céu, começando lá adiante, onde o capinzal jazia tombado pela enxurrada, na beira do ribeirão.
As crianças ficavam encolhidinhas dentro de casa, empoleiradas em roda do fogão de lenha, observando as goteiras goteirando nas latas, panelas e bacias espalhadas pela casa.
Pingo, pingo, pingo...
Lá fora, a ventania em redemoinhos uivava e levantava as telhas velhas do galinheiro, espantando as galinhas do choco e arrastando a palha do paiol de embolada com algum balaio vazio.
A criação, sofrendo incomodada, campeava por uma beira de telhado e ficava ali entafuiada, excomungando a tormenta com olhinhos desconfiados.
Quando os passarinhos enfim voltavam a cantar, vinha a surpresa gostosa do depois-da-chuva: o arco-íris no céu, começando lá adiante, onde o capinzal jazia tombado pela enxurrada, na beira do ribeirão.
O mundo ficava feito novo.