
Quando os tiros ecoaram na praça, a multidão se espalhou feito água esparramada, tomando os becos e as ruelas do centro. Os cavalos dos milicos avançaram, pisoteando os lírios amarelos do jardim, e eu fechei a janela, por precaução.
Apaguei a luz e fui me abrigar lá na cozinha, temperando o feijão.
Então liguei o rádio e a música calma descombinou com as notícias falsas, nada a ver com a noite a que ia anoitecendo lá fora, entre freadas bruscas, gritos e o tiroteio.
Continuei a fazer o jantar.
Ali na praça a cena era a mesma, quando arranjei a salada de alface com tomate e cebola.
Resolvi tomar banho.
Lavei e sequei o cabelo, pintei as unhas dos pés com um esmalte vermelho-sangue. Os tiros ainda pipocavam, lá fora.
Vesti meu pijama vermelho e olhei para baixo pela fresta da persiana: umas poucas pessoas ainda fugiam, uns cavalos ainda esmagavam lírios amarelos no jardim da praça.
Fiquei ali algum tempo, escutando os ecos da quizumba, até que entrou pela janela um silêncio esquisito, uma ausência total de ruídos urbanos. Nenhuma buzina, nenhuma freada, nenhuma sirene, nada!
Continuei a fazer o jantar.
Ali na praça a cena era a mesma, quando arranjei a salada de alface com tomate e cebola.
Resolvi tomar banho.
Lavei e sequei o cabelo, pintei as unhas dos pés com um esmalte vermelho-sangue. Os tiros ainda pipocavam, lá fora.
Vesti meu pijama vermelho e olhei para baixo pela fresta da persiana: umas poucas pessoas ainda fugiam, uns cavalos ainda esmagavam lírios amarelos no jardim da praça.
Fiquei ali algum tempo, escutando os ecos da quizumba, até que entrou pela janela um silêncio esquisito, uma ausência total de ruídos urbanos. Nenhuma buzina, nenhuma freada, nenhuma sirene, nada!
No escuro, só o tic-tac do despertador e o ronquinho asmático da geladeira continuavam, o resto era silêncio.
Então eu escutei o grilo. Um grilo!
No escuro da noite, depois do movimento armado que fez as pessoas correrem e se esparramar como água espalhada, depois dos cavalos reluzentes esmagarem quase todos os lírios amarelos da da praça, eu escutava um grilo!
Certamente um grilinho terrorista, que cantou e cantou o seu cantinho comunista, desprezando o estado de sítio. Cantou até quando o sono chegou, apagando sua voz, junto com todos os outros ruídos daquela noite de abril.
foto: "Persiana" - Canto de Sirena
Então eu escutei o grilo. Um grilo!
No escuro da noite, depois do movimento armado que fez as pessoas correrem e se esparramar como água espalhada, depois dos cavalos reluzentes esmagarem quase todos os lírios amarelos da da praça, eu escutava um grilo!
Certamente um grilinho terrorista, que cantou e cantou o seu cantinho comunista, desprezando o estado de sítio. Cantou até quando o sono chegou, apagando sua voz, junto com todos os outros ruídos daquela noite de abril.
foto: "Persiana" - Canto de Sirena
6 comentários:
Olá!
Primeira visita minha ao seu blog!
Gostei bastante!
Adorei esse texto!!! Muuuito legal!
Depois de tantos tiros, da confusão dos seres-humanos, o grilo e os lírios, e a natureza como um todo, parece que ignoram a confusão humana e seguem suas vidas...
se o tal aquecimento global não for revertido, quem some do mapa somos nós e a nossa ambição...a natureza ficará e se tranformará!
Voltarei mais vezes...é bem vinda na minha página também!
Bjo!
Dalva, cheguei até aqui, pq vi seu blog linkado a outro (que agora não me lembro).
Visitarei o de poesias!
Já te linkei no meu blog, ok?!
Bjão!
"ESTE COMENTÁRIO NÃO TEM NADA A VER COM ESTA BLOGADA E SE AUTO-DESTRUIRÁ EM 30 SEGUNDOS!"
Dalva, obrigado pela visita e comentário no meu blog. Eu, que tenho alma de Emo e não aprendi, ainda, a não tomar partido dos problemas que não são meus e fazer aquela cara blasé, assisto Big Brother pra desopilar o fígado, como você mesma disse.Dessa vez não ocorreu o efeito desopilante... E fiquei, assim, meia-calabresa/meia-muçarela por causa de um programa de tv. Acrescentei à minha quota diária de Prozac um blister de Epocler. Se as coisas não vão bem pela ordem natural, então, irão bem goela abaixo mesmo. :oD
Bjs,
Tô esperando nova blogada sua!
João Eduardo
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1
BOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMM!!!
eeeeeeeei
a senhorita volta com o blog e nem avisa nééé? hehehhehe
bom, se tem uma coisa que me tira o sono dentro de casa, é o tal do grilo cantando.
mas por incrivel que pareça, quando estou na fazenda o canto dele me ajuda a dormir.
=*
Muy bonito tu texto, lleno de dulzura.
Gràcies per les teves gentils visites a amicsarbres, no ens abandonis mai.
Gracias por tus gentiles visitas a amicsarbres no nos abandones nunca.
Salut i una abraçada.
JV
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