
A mulher chegou, tímida, e sentou na sala de espera, no meio das outras mulheres.
Trazia um filho enrolado num cobertorzinho de lã e mais duas meninas pequenas agarradas à barra da saia. Magrinhos, todos tinham aquela cor incerta que fica entre o pardo e o mulato, aquele amarelo desbotado e sem brilho dos que passam fome.
As meninas vestiam uns vestidos velhinhos mas muito limpos, mas calçavam havaianas sujas de lama. Porque vinham de longe, e vinham a pé.
O relógio da parede foi dando as horas: oito, nove, dez... A fila de mulheres ia caminhando, lenta, cada uma desfiando seu rosário de penas em frente ao guichê.
Uma contava que o marido bebia, que dava nela e nos filhos quando chegava bêbado, e que deixava faltar as coisas dentro de casa para comprar bebida.
Outra, descobrindo um curativo recente na testa, dizia que o companheiro a espancava dia sim, dia não. Queria providências.
Uma outra trazia a filha menor de idade, declarando-se seduzida. Pelo jeitinho maroto da moça, qualquer um diria que seria ela, e não o homem, o sedutor. Mas enfim... lei é lei!
Onze horas! A criança no colo da mulher começou a choramingar de fome. Ela chacoalhava o filho e dava o peito magro para ver se o enganava.
Nisso, o inesperado entrou na sala de espera. Um homenzinho sério, magro e também muito simples, com o boné dum político derrotado:
- Edileuza, vam'bora.
Era o marido da pobre. Descobrira seu paradeiro e viera atrás dela. Ou ela o acompanhava, ou...
O resto ficou por conta do imaginário de cada um, porque Edileuza foi com ele e aquelas crianças, e não voltou mais.
Coisas da vida.
Foto: "O peão" - Leandro