quinta-feira, 31 de julho de 2008

DESLIGADONA



- Então...

Quem conheceu a Júlia, sabe do que eu estou falando. A Júlia era uma figura! Meio desligadona, sem ser relapsa, ela trabalhava direitinho, fazia tudo aquilo que a gente tinha que fazer, diligentemente mas sem apego. Entende?

Ela parecia flutuar acima dos fatos, numa nuvem particular, só dela. 

O mundo lá fora podia estar se desmantelando em mil pedaços: tiroteios, perseguições, pancadarias, homicídios, estupros, latrocínios, chacinas, furtos, assaltos, sequestros, greves, incêndios, comoções, que a Júlia não estava nem aí. Fazia o que tinha que fazer, nem mais, nem menos. Sem emoção.

Desligadona e boazuda...

É, tinha esse detalhe. A Júlia era, além de desligadona, uma morena daquelas de fechar o comércio. Alta, classuda, ela ainda por cima usava umas roupas justinhas, que lhe realçavam as curvas e acentuavam as lombadas. 

- Um mulherão!

A homaiada da repartição se entreolhava, sequiosa e vexada, um entendendo o desespero do outro. Porque não adiantava nada cantar a Júlia, e todo mundo já sabia disso. Ela não diria não, nem sim. Só iria olhar para o lado, rir uma risadinha macia e enigmática, com aqueles seus dentinhos de boneca, muito juntinhos um do outro e muito branquinhos, e desconversar. 

 Iria puxar outro assunto, retomaria um diálogo cortado por um evento qualquer, como se, ao invés de horas, só houvessem decorrido alguns minutos, e como se o interlocutor também fosse lembrar do que estavam conversando:

- Então...

E o atrevidinho enfiaria a viola no saco, desistindo de lhe fazer a corte.

foto: "La Gioconda" detalhe - web

13 comentários:

Anônimo disse...

Então... Passado um tempo, ela foi promovida a gerente? Acertei?

Bj,

João

Anônimo disse...

Exame feito. Segundo o médico que o fez eu me tratando seriamente ficarei bem.
Obrigado por me desejar boa-sorte.

Pra você colocar uma caixa de mensagens aqui, vá lá na minha e clique no link Get a CBox no pé da caixa, registre-se, personalize a sua caixa, pegue o código html e pronto. Se precisar de mais ajuda pode contar.

Bjs e um ótimo fim-de-semana.

João

Kendall disse...

Retrato interessante da Leia. A história dela continua? Uma personalidade unidimensional pode agarrar durante um vignette, mas não um conto . . . ou um romance. Que tipo de conflicto ela pode ter? What makes us want to keep reading after your delightful description?
Kendall in Dallas

DE-PROPOSITO disse...

'Fazer a corte'
---------
Ao fazer-se a corte, espera-se a contrapartida. Se ela não houver, deixa-se de 'cortar'.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel

Anônimo disse...

Bom dia, Dal!

Toca da raposa? Aaa, você foi gentil Dal. Num tá mais pra buraco do tatú não? (Rs)

Beijos nas suas bochechas rosadas,

João

Anônimo disse...

Quer dizer que uma repartição pública também tem seus personagens...
Há braços!!

Camila* disse...

Dalva
Eu prefiro muito mais ler o livro e depois ver o filme ... justamente para não ter esse pensonagem gravado ... pra dar asas a imaginação no momento da leitura !!

Quanto ao Khaled Hosseini ... também tive um certo bloqueio antes de le-lo, pois, assim como você, não gosto de livros que estão "na boca do povo" rsrsrs ... mas esse eu realmente recomendo !!

Beijos

jean dubois disse...

Chère madame,

Vous avez invité à visiter vos salons littéraires. Je vous sollicite la possibilité de participer à votre fêye des mots, de la vie.
Merci de votre accueil.
Jean Dubois
France
jeandubois4@gmail.com

jean dubois disse...

Chère Madame,

Je n'ai pas résisté à venir jusqu'à la porte de votre salon littéraire et poétique. Vous nous y avez invité sur un blog ami...

Je reviendrai vous lire.

Bien à Vous
Jean Dubois

Fran Invernoz disse...

Leila e una mujer misteriosa, ése es su encanto.

vidacuriosa disse...

Muito bom texto. Gostei de mais. Vou voltar outro dia.
Abrs.

Anônimo disse...

Dal, como vai?

Após um período curto de falta de inspiração pra blogar, eis que publiquei hoje pela manhã um texto novo em folha, daqueles pirados na batatinha ou escorregados na maionese. (Kekekekeke...)
Conto com sua ilustre visita ao meu blog e, of course, com seu comentário também.

Bjs com um calor de 33 graus Celsius que está fazendo hoje em Sampa.

João Eduardo

Anônimo disse...

Dal, a cantora é branca e seu estilo musical traz uma boa dose de nostalgia dos anos 60. Ela está fazendo sucesso atualmente mais com o a música Mercy, misericórdia em inglês. Que bom que você gostou da Warwick Avenue! Mais até do que do meu post "intimista", me pareceu. (Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...)
Capenga seria mais adequado pra ele, né? Mas eu avisei que tinha pirado na Elma Chips e escorregado na Hellmann's. (Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...)

Espero que logo você recupere aquele afã de escrever!

Bom finalzinho de quinta-feira,

Do amigo João Eduardo