sexta-feira, 7 de agosto de 2009

FUJONA

Era uma vez uma cachorra. 

 Chamava Fujona, porque fugia. Atravessava a grade do portão da vila, e desaparecia por uma semana, duas, mas sempre voltava. Tinha apego pela gente, parecia. 

Voltava sujinha, magrela, o pelo cheio de carrapichos, e com uma fome de leoa. Será que passava fome ou sede, andando por aí? Sabe-se lá o que se passa na cabeça de uma cachorra. 

Ela comia e bebia bastante, até encher bem a pancinha murcha... Bem, murcha, murcha mesmo só ficou depois da vaquinha que se fez na vila, em prol de sua castração: a Fujona tivera já uma multidão de filhotes, cada um mais bonitinho do que o outro,  marronzinhos, pretinhos, malhadinhos, todos distribuídos para adoção. 

Que eu saiba, a danada não tinha dono certo, e vivia solta pela vila, comendo ora aqui, ora ali, dormindo preguiçosamente dentro dum carro velho. Assim sendo, demorou um certo tempo até que a gente percebesse a sua falta. Ela teria saído de fininho, como sempre fazia, e caído no mundo. 

Teria ido atrás de outros cachorros, talvez, perseguindo algum gato, ou correndo atrás de um pneu. Ou o pior! Talvez tivesse sido atropelada, perambulando distraída pelas ruas mais movimentadas... 

Andamos dias e dias tristes, todo mundo olhando para as esquinas, à procura de seu vulto de cor indefinida. Será que a Fujona voltava? Será que ela teria sede? 

E todos nós a amamos tanto, talvez postumamente. 

foto: Cassiano Silva

4 comentários:

Anônimo disse...

Já passei a amar a Fujona!(Rs)
Como cachorro é tudo de bom, né?
Fui lendo o seu texto e lembrei de uma música antiguinha, mas que vira-e-mexe me pego cantarolando em pensamento e, às vezes, literalmente. Acho que você conhece:

EU GOSTO MUITO DE CACHORRO VAGABUNDO
QUE VIVE SOZINHO NO MUNDO
SEM COLEIRA E SEM PATRÃO

GOSTO DE CACHORRO DE SARJETA
QUE QUANDO ESCUTA A CORNETA
SAI ATRÁS DO BATALHÃO

...

Um dos meu sonhos em relação à minha Thalia é poder soltá-la da coleira, deixá-la livrezinha da Silva, mas onde eu moro e do jeito que ela é, só nos sonhos mesmo.

Super beijo!

vidacuriosa disse...

De repente, lendo o texto, lembrei-me da Paquita (não tem nada a ver com a Xuxa e me vieram uma grande saudade e um complexo de culpa.A nossa cachorrinha se foi, no primeiro semestre deste ano, com quase 18 anos de idade. Ao contrário da Fujona, nunca saiu de casa (nos dois apartamentos em que morou e, por último na casa). Nunca teve filhotes, nem perdo de outro cachorro chegou. Sim, eu sei, deveríamos ter cuidado melhor dela. Mas o que fazer?

angela disse...

Já amei muitas fujonas e alguns fujões também. De alguns tive noticias já outros devo amar postumamente como vocês.
Linda cronica e adorei o final tão bem sentido
beijos

Lari Bohnenberger disse...

Querida da Fujona!
Fez com que eu me lembrasse da Linda, uma vira-latinha malhada que vagava pelas ruas de Imbé, uma prainha aqui do RS onde eu costumava passar as férias quando criança. Quando conheci a Linda ela tinha acabado de ter filhotinhos. Eu nem sabia que ela já tinha um nome pelo qual era conhecida pelos demais veranistas, por isso a princípio a chamei de Mãe. Por causa maternidade recente. Como todo veraneio dura pouco, em um mês voltamos para Porto Alegre. No verão seguinte, quando chegamos à mesma praia, não é que lá estava a Linda, vindo na nossa direção, abanando o rabo pra gente como que pra dar as boas vindas? Demonstrando a maior das felicidades em nos ver ali!
Que saudade!
AMO cachorros!
Bjs!