sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O PEPINO TORCIDO



É de pequenino que se torce o pepino, dizem. Mas, se hoje eu me considero um ser humano ético, de elevados valores morais e de reputação ilibada, devo também admitir que nem sempre fui inteiramente assim. Aliás, nasci com uma franca quedinha para a criminalidade e foi a minha santa mãezinha que, com a sua orientação firme e firmes chineladas, fez que eu me amoldasse à essa forma de pessoa honesta que ora ostento.

Lembro até hoje dos episódios do pente e da caneca..
Foi assim. Eu tinha uns seis, sete anos, talvez menos, talvez mais. Voltava do grupo escolar, feliz e saltitante, trazendo na malinha da escola um pente alheio. Era um pentinho simples, marronzinho, daqueles de plástico.
Chegando em casa, com a santa inocência dos verdes anos, mostrei o pente à mamãe. "Onde você arrumou esse pentinho?" - ela perguntou, carinhosa. Não adiantou nada eu dizer que tinha achado no chão: ela me fez voltar, no dia seguinte, e entregar o pente para o dono. Um vexame...
Passou algum tempo e encontrei na rua uma canequinha verde, de ágate. Achei tão bonita, afinal eu não tinha quase que nenhum brinquedo, então levei-a para casa, escondida na mala. Já na esquina, entretanto, uma lembrança fez com que eu me contivesse. Ela ia descobrir, ia me fazer voltar com a caneca! Que fazer? Ora, ali pertinho tinha uma obra, diante da qual estava um monte de areia. Era isso! Enterrei o canequinho de ágata na areia para quando quisesse brincar. Era só ir ali, desenterrá-lo e pronto! E lá fui eu, alegre, para casa.
Lá pelas tantas, lembrando da caneca, voltei ao monte de areia. Ela tinha sumido! Alguém tinha cavoucado e tirado o meu tesouro dali, deixando só a areia escarafunchada no monte. Voltei para casa com o rabinho no meio das pernas e novamente a inocência da tenra idade me denunciou:

- Manhê, sabe aquela canequinha verde do monte de areia? Não fui eu não, viu?

Não lembro se houve chineladas, mas foi grande a lição de ética.

Um comentário:

Anônimo disse...

Kakakakakakakakakakaka... Muito legal esta blogada! Me identifiquei demais. Já li na Super-Interessante que essencialmente os seres humanos são ruinzinhos de pedra. Viva as mamães que nos "adestraram"!


Beijos!

João Eduardo